Era uma vez uma estrela que decidiu soltar-se do céu, dizia ela que se tinha fartado de iluminar todas as noites as pessoas que olham admiradas para elas. Queria ver como era o céu visto da terra, as suas irmãs estrelas tentaram em vão que ela mudasse de ideias mas Sibilina, (era o nome desta estrela teimosa), queria com toda a força soltar-se do seu ganchinho que a prendia ao céu e deixar-se cair até parar no chão.
- Sibilina, deixa-te de ideias parvas, as estrelas não podem ir para o chão.
- E porque não? Eu só queria ver como são aquelas luzes de tantas cores que se vê daqui.
- Estrela marota, tu tens que ouvir os mais velhos.
Já pensaste como depois vinhas cá para cima?
A Lua deixou Sibilina a pensar, mas a vontade era imensa. Era com enorme respeito que a pequena estrela ouvia a dona Lua mas olhando para baixo aquelas luzinhas deixavam-na fascinada, ali em baixo também devem existir muitas estrelas e com várias cores, quero ver como são.
Esperou pacientemente que todas as suas irmãs adormecessem e muito devagarinho com as suas pontas soltou o pequeno gancho que a prendia ao céu e deixou-se cair numa queda suave que parecia nunca mais terminar, a visão de Sibilina do céu era diferente, porque as coisas pareciam tão pequenas de cima e agora eram enormes e sem brilho, afinal já não se viam as luzinhas de várias cores que a enfeitiçavam no seu alto mundo.
Uma das suas pontas espetou-se numa grande árvore …
- Sorte danada, queria chegar ao chão e tinha que ficar aqui no alto, assim como posso sentir a terra.
Conformada com a sua sorte deixou-se levar pela doce brisa do vento que a baloiçava de um lado para o outro. A luz do sol reflectia-se nela e eclodia relampejos doces no céu que pouco ou nada se viam porque à luz do dia o brilho de Sibilina não se deslumbrava.
Com o aproximar da noite Sibilina sentiu um pouco de frio e não conseguiu conter uma pequena lágrima de seu rosto que vinda de uma estrela se transforma em pequenos cristais, lá no alto, ali onde era impossível tocar moravam as suas irmãs, e a dona Lua que amargurada tentava a todo o custo encontrar a luz de Sibilina, mas no meio de tantas era quase impossível.
Sibilina, arrependida do que fez, piscava a todo o custo para que as suas irmãs e a dona Lua a encontrassem. No alto da arvore, Sibilina estava rodeada de pequenas, grandes, assim assim, todo o tipo de luzes e de todo o tipo de cores, mas não eram estrelas o que a rodeava eram coisas esquisitas que não se pareciam com aquilo que ela admirava lá no céu e não se pareciam nem um pouco com ela.
A pequena estrela sentiu-se traída, lá no céu estas luzinhas pareciam estrelinhas que piscavam só para mim mas afinal não passavam de meras luzes esbatidas que me enganaram este tempo todo. Assim, envolta numa grande tristeza, Sibilina adormeceu e como todas as estrelas dormem de dia para poderem brilhar toda a noite, Sibilina adormeceu sob o fardo do cansaço.
Já há pouco a pequena estrela fechou os olhos para momentos depois os abrir num ápice, um enorme alvoroço tomava conta do quintal onde Sibilina aterrou, pelo meio das folhas da enorme arvore a pequena estrela avistou uma menina a brincar com um cão, a brincadeira era uma enorme berraria que acordava de certeza toda a rua que envolvia aquele pequeno quintal, Sibilina resmungava:
-Pelo menos no céu reinava o silêncio…
Por uns momentos a algazarra finou-se e Sibilina curiosa afastava os ramos que lhe tapavam a vista e procurava as causas de um silêncio tão misterioso. A menina encontrava-se de joelhos a apanhar pequenas pedras de cristal que repousavam na base da arvore, o cão farejava incrédulo naqueles objectos e seu olfacto dirigiu-se para o alto da arvore, tinha a certeza que aquelas pedrinhas que a sua jovem dona tinha na mão vieram do alto da arvore, pôs-se de pé com as suas patas apoiadas na velha arvore e começou a ladrar chamando a atenção da dona.
-Que foi Rufos, o que queres…
O cão impaciente saltava sem parar e soltava pequenos gemidos para convencer a dona a segui-lo.
-Lá em cima, mas o que tem lá cima…
A menina afastou-se da árvore e tentava a todo o custo ver o que de estranho se passava na árvore para que o seu cão não parasse de ladrar. Já bem afastada da arvore a jovem menina viu uma luz que tremelicava mesmo na copa, decidida correu para a garagem de casa e com um enorme estrondo aparece triunfante com uma enorme escada que a grande custo arrasta pelo chão até que por fim consegue depois de algumas tentativas encostar à arvore.
-Queres vir Rufos?
A pergunta ficou no ar sem resposta mas a decidida menina subiu a escada para alcançar aquela luz tão estranha.
Sibilina nem queria acreditar, aquela menina estava a subir a escada e de certeza que iria descobrir o seu refugio, o que iria dizer para ela, será que ela me ajuda… Tantas perguntas que depressa se estagnaram, os doces olhos da menina já se encontravam mesmo à sua frente.
-Que estrela tão bonita, mas como vieste aqui parar?
-Fui eu que me soltei do céu…
-Para que? O céu é tão bonito com as vossas luzinhas porque havias de te soltar para vir para aqui?
-Lá de cima as vossas luzinhas também são muito bonitas só que depois descobri que não são estrelas.
-Tens nome ou as estrelas chamam-se por números?
-Chamo-me Sibilina…e tu?
-Eu sou a Joana e o meu cão que ficou lá em baixo é o Rufos, sabes ele tem medo das alturas por isso é que não veio.
-Podes me ajudar, Joana?
-Mas como, Sibilina?
-Eu quero voltar para junto das minhas irmãs e não sei como…
-Não sei o que fazer mas conheço quem tem soluções para quase tudo, espera um pouco que eu venho já com novidades.
-Joana posso ir contigo?
-Esta bem vou tirar-te dai e assim podes pelo menos ver um pouco o meu mundo.
-Para onde vamos?
-Vais conhecer um amigo meu, chama-se Tónio, de certeza que vais gostar dele e ele terá a solução para o teu problema.
Sibilina, agora protegida pelo bolso da sua nova amiga, sorria enquanto Joana corria para casa do velho Tónio. Tónio era um velho bonacheirão que quando se encontrava com a sua amiga contava histórias da sua infância e enredava aventuras que transportava Joana em cavalgadas de sonhos, tinha ideias para tudo menos para a morte, dizia ele…A companhia da pequena menina enchia seu coração de animo, reformado da Câmara da Trofa, depressa arranjou uma maneira de se distrair, o trabalho árduo da manutenção de uma cidade valeu-lhe agora um descanso merecido na sua velha casa.
Um velho alpendre empinou-se à sua frente, Joana esticou seu braço e bateu à porta enquanto chamava pelo seu velho amigo.
-Tónio, oh! Tónio…Ajuda-me aqui
Rufos ajudava com o seu ladrar habitual.
-Vens a fugir do que?...Oh periquita.
-Tenho uma amiga que precisa da tua ajuda.
-Não vejo ninguém…Só o chato do Rufos.
-Esta aqui no meu bolso…
O velho homem caiu de joelhos no chão ao ver uma pequena estrela que olhava para si com um terno olhar, levemente passou os seus dedos nas pontas afiadas e sorriu.
-Como encontraste…
-Chega de explicações, depois conto…Tens alguma ideia para a por de volta no céu outra vez?
Tónio olhava à sua volta e tentava encontrar a solução, sentia os olhares a concentrarem-se nele quando de repente uma luz se acendeu na sua cabeça, com a sua idade ainda conseguia dar pulos de alegria. Joana, Sibilina e Rufos olhavam para ele atónitos com tamanho espectáculo.
-Já sei, Já sei como vou fazer…
-Como, Como vai ser?
-Vou usar a minha cana de pesca e com a experiência que já tenho de certeza que consigo lança-la outra vez para o céu mas a estrela terá que se agarrar bem para não voltar a cair.
Sibilina acenou com as suas pontas e aceitou a sugestão de Tónio que num ápice apareceu no alpendre com uma cana um pouco gasta pelo uso.
Espetou levemente o anzol em Sibilina e olhou para Joana.
-Chegou então a hora das despedidas.
-Sibilina, gostei de te conhecer…Não tornes a repetir a tua proeza porque o céu é bonito com a tua luz não nos prives de te ver a iluminar o céu ao lado da lua.
-Obrigado amigos, não vos irei esquecer quando estiver lá no alto; Joana não precisas de cortar o fio podes ficar com ele para que não te esqueças que na outra ponta estou eu a ver-te lá de cima.
Joana sorriu enquanto Tónio lançou com toda a força a jovem estrela em direcção ao céu, o carreto da cana corria sem parar e ao longe avistava-se uma luzinha a desaparecer no céu.
Sentados no degrau da casa de Tónio esperaram impacientemente por aquele momento, a noite chegou e a ponta de fio esticava-se em direcção ao céu onde todas as estrelas se apagaram para que só uma se enche-se de luz para agradecer a três bons amigos que fez na terra.
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